DIAULAS DOS SANTOS NAVARRO – RA 1047304
Licenciatura em História
ESTAGIO NO ENSINO MÉDIO – 150 HORAS
Orientador: Professor Reginaldo
De Oliveira Pereira
“Centro Universitário Claretiano”
SÃO PAULO
2011
ÍNDIOS BRASILEIROS: UMA CULTURA SUFOCADA
Resumo
Até o inicio do século XX, a maioria da população brasileira via os
indígenas como bichos do mato, pronto para serem abatidos. Colonizadores,
bandeirantes, fazendeiros, imigrantes, seringueiros, militares e até
estrangeiros chacinaram os índios por interesse econômico, vingança e até por
diversão. Com uma população calculada entre seis e dez milhões em 1500, hoje
não passa de 734 mil pessoas que se declaram índios, segundo o IBGE (2010).
Mas, além da chacina física, também ocorreu à chacina cultural. Negaram-lhes o
direito a sua cultura e religião.
Para o dito “civilizado” a cultura e a religião dos silvícolas, sempre
foi visto como folclore ou algo demoníaco, como acreditavam os jesuítas.
A partir de Rondon, embora lentamente, uma nova visão humanística e
realista em relação aos nossos índios começou a surgir. Com a criação da SPI e
logo em seguida da FUNAI, o índio passou a ter uma tênue esperança de
sobrevivência. Mas e a sua cultura sobreviverá?
Palavras-chave: Cultura, religião, índio.
A Problemática indígena
Quando escolhi esse assunto para o meu trabalho de conclusão de curso,
suspeitava que encontraria muita dificuldade para encontrar material de
pesquisa sobre este tema, devido ao grande desinteresse da maioria da população
sobre este povo que faz parte da formação cultural, antropológica e humana da
nação brasileira.
A maioria dos brasileiros desconhece a cultura e a religiosidade
indígena. Eles são vistos ainda como seres bizarros e exóticos e que gera
preconceitos e racismo por uma parte da população. A figura do índio gera muita
polemica: Uns entendem que sua cultura deve ser destruída e que os índios devem
incorporar nossa cultura (integração). Outros apóiam que os índios mantenham
sua cultura e que tenham contato mínimo com o “civilizado”.Já outros querem um
programa intermediário. Mas o principal interessado nesta história toda nunca é
ouvido.
Para realizar este texto foram consultados vários sites e autores
especializados, como Bete Mindlin, Darcy Ribeiro, Benedito Prezia e Eduardo
Hoornaert, Varnhagen, Luis Câmara Cascudo e a excelente obra “Índios do Brasil”
organizada por Luís Donisete Benzi Grupioni.
O material existente é pouco, mas acredito que o suficiente para elaborar
um artigo que venha trazer luz a ‘religião”ou mitologia indígena, pois o que
sabemos sobre eles é aquilo que aprendemos na infância sobre a Iara, lenda da
mandioca, Saci-pererê e Boitatá.
Então, o primeiro objetivo deste artigo é procurar entender que os índios
tinham uma cultura e uma religião, mas foram sufocados pelo homem branco por
motivos religiosos e econômicos. O segundo objetivo é mostrar que apesar de
tudo,seus conhecimentos
contribuíram
para a formação cultural do Brasil.
Espero que esse artigo possa
colaborar para que se tenha uma melhor compreensão das atitudes, valores,
cultura e costumes dos nossos irmãos índios, primeiros brasileiros que
contribuíram com suas lendas, mitos, alimentos, danças, utensílios, etc.
Os amigos dos índios
No inicio da colonização os descobridores e colonizadores consideravam
que os índios não tinham nenhuma cultura e que eram quase animais. Tanto na
Carta de Caminha como no relato dos estrangeiros ou no primeiro livro de
História do Brasil, de Varnhagen, os índios são expostos como seres animalescos
e sem moral:
Eram pardos, todos nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse suas
vergonhas. Nas mãos traziam arcos com suas setas. Vinham todos rijos sobre o
batel; e Nicolau Coelho lhes fez sinal que pousassem os arcos. E eles os
pousaram... Carta de Caminha ao Rei de Portugal, 1500.
“Essas gentes vagabundas, que, guerreando sempre, povoavam o terreno que
hoje é do Brazil, eram pela maior parte verdadeiras emanações de uma só raça ou
grande nação... (VARNHAGEN, 1894, p.24-25)
Mas além do preconceito inerente a época, em nenhum momento o índio é
visto como o dono da terra, mas apenas como alguém que ocupava uma terra sem
dono e que tinha que ser ocupada, explorada e abandonada quando não houvesse
mais bens para levar para Portugal. E o mais surpreendente é que os invasores
utilizavam os habitantes como escravos para “saquearem” suas próprias riquezas.
Mas não foram apenas esses dois personagens citados que trataram os
índios com preconceitos e ignorância. Muitos viajantes estrangeiros que
percorreram o interior do Brasil escreveram obras pelo que viam e não pela
convivência com os índios:
Jean De Léry, Anthony Knivet, Abeville, Antonil, Padre Nóbrega, Hans
Staden, Anchieta e Thevet foram alguns daqueles que escreveram sobre nossos
índios com maior ou menor preconceito. Padre Vieira foi o único religioso que
tratou os índios com respeito e amor cristão.
Somente no final do século XIX , com a figura de Marechal
Rondon,1865/1958 é que os índios começaram ser vistos sob outro prisma.
Ao ser designado para chefiar a construção das redes telegráficas, Rondon
procurou tratar os índios com mais humanidade, inclusive as tribos arredias.
Cândido Mariano da Silva era descendente de índios Terena, Borôro e
Guaná. Ele nasceu em 5 de maio de 1865, numa cidadezinha de Mato Grosso chamada
Mimoso, mas que hoje é Santo Antônio do Leverger. Perdeu os pais ainda menino e
foi criado por um tio, cujo sobrenome - Rondon - Cândido Mariano adotou anos
mais tarde, com autorização do Ministério da Guerra. Por seu trabalho
consciente frente aos índios foi convidado para ocupar a presidência da Localização dos
Trabalhadores Nacionais (SPI), criado em 1910, atual FUNAI (Fundação Nacional
do Índio - 1967). Nesta função, comandou e traçou o roteiro da expedição que o
ex-presidente dos Estados Unidos, Theodore Roosevelt, realizou pelo interior
brasileiro entre 1913 e 1914, a Expedição Roosevelt-Rondon.
Produziu o livro Índios do Brasil, em três volumes, editado pelo
Ministério da Agricultura. Fervoroso defensor dos povos indígenas do Brasil ficou
famosa a sua frase: "Morrer, se preciso for; matar, nunca."
Outros que procuraram trazer maior conhecimento para nós, sobre o mundo
indigena, foram os irmãos Villas Boas.
Eles, Cláudio, Leonardo e Orlando, foram os indianistas herdeiros das ideias
humanistas defendidas por Marechal Rondon com quem começaram a trabalhar em
1945 na expedição Roncador-Xingu. Explorar as misteriosas terras do Brasil
Central evitando ocupações estrangeiras missionárias, contatar e pacificar os
índios eram o norte desta expedição supervisionada pelo SPI (Serviço de
Proteção ao índio). Com o fim da expedição em 1951, Orlando iniciou uma
campanha para a construção da Reserva do Alto Xingu que culminou na criação do
Parque Nacional do Xingu em 1961, durante o governo de Jânio Quadros. A
formação do Parque ajudou a aumentar a ideia, atualmente muito contestada, de
que os índios devem ser mantidos isolados para que não sejam “aculturados e
civilizados”, os que tornaram os irmãos muito famosos entre ambientalistas e
ativistas de direitos humanos. Seus nomes foram indicados para vários prêmios
nacionais e internacionais, inclusive para o Prêmio Nobel da Paz, nos anos de
1971 e 1975.
Temos outros estudiosos e pesquisadores que de alguma forma também
contribuíram para a divulgação da cultura indígena brasileira:
Betty Mindlin, economista
e antropóloga têm uma longa história de trabalhos sobre e com os povos
indígenas brasileiros. De seus projetos de pesquisa nasceram uma tese de
doutorado ("Nós, Paiter", publicado em 1985 pela editora Vozes) e
seis livros sobre mitos, escritos em parceria com narradores indígenas. Entre
eles, "Moqueca de Maridos" , publicado em vários países, uma
maravilhosa antologia de mitos indígenas sobre o amor, “Terra Grávida” que fala
dos mitos de tribos do Estado de Rondônia.
Luís da Câmara Cascudo nasceu em Natal, RN, em 1898. Lendas e mitos,
hábitos alimentares, folguedos, modos de falar e vestir-se, jogos infantis,
práticas funerárias, superstições e costumes, tudo que constitui e enriquece a
cultura popular brasileira foi alvo
das pacientes
pesquisas de Luís da Câmara Cascudo, cujos mais de 100 livros publicados
lhe foi conferido a reputação de maior folclorista do país. Coletados os
dados, ora em campo, ora em arquivos, punha-se o autor a relacioná-los aos
índios, à África, a Portugal e à Idade Média européia, ou até mesmo a tradições
asiáticas, para mostrar como as raízes do cotidiano do povo vêm com freqüência
projetadas desde estratos remotos. Sua obra etnográfica e antropológica,
estando sempre em sintonia com os avanços teóricos, foi, porém, toda realizada
em linguagem criativa e saborosa, o que a põe ao alcance do leitor comum, sem prejuízo
de manter-se como fonte obrigatória de consulta. Morreu em 1986.
Darcy
Ribeiro nasceu em Minas (1922), no centro do Brasil. Formou-se em
Antropologia em São Paulo (1946) e dedicou seus primeiros anos de vida
profissional ao estudo dos índios do Pantanal, do Brasil Central e da Amazônia.
Neste período fundou o Museu do Índio e criou o Parque Indígena do Xingu.
Escreveu uma vasta obra etnográfica e de defesa da causa indígena.
Como vemos, existiram e existem pessoas sensíveis à problemática
indígena, embora a grande maioria ignore isso e um grande número de brasileiros
preferiam ver a extinção dos índios ou pelo menos a sua integração total a
cultura branca.
Muitos brasileiros não aceitam que terras e florestas sejam usadas para
criar reservas para a comunidade aborígine, acreditam que essas terras deveriam
estar nas mãos de latifundiários ou de madeireiras.
Em nome do Rei
Ao apossar das terras que no futuro seria o Brasil, os portugueses tinham
em mente que tudo lhe pertencia. Ao deparar com um povo que não conhecia armas
de fogo ou arma branca e tinha somente arco e flecha como forma de defesa, seu
primeiro pensamento foi dominá-los e utilizá-los como mão-de-obra escrava.
Como não encontraram ouro ou pedras preciosas logo que chegaram,
derrubaram o pau-brasil e os índios foram vitais nessa empreitada. Em seguida
plantaram cana-de-açúcar no litoral brasileiro e mais uma vez os índio foram
utilizados como trabalhadores braçais.
Devemos ter em mente que o índio antes da chegada dos portugueses eram
“seres fortes, belos, sem lei, sem rei e sem alma”
Essa frase de Américo Vespucio, citada por Marilena Chauí (1994, p.11) talvez
seja um resumo do preconceito do civilizado sobre o que representa a cultura,
religião e tradição indígena.
Eles viviam harmoniosamente em suas comunidades sem precisar de lei. Não
tinham Rei, pois sabiam o que fazer para garantir a sobrevivência da aldeia. E
tinham alma, pois acreditavam que existia alguma coisa após a morte, como crê a
maioria das religiões dos ditos civilizados.
Outra visão incorreta sobre os índios que se tinha é que eram predadores,
por não criarem animais, plantarem(algumas tribos são apenas coletoras), ou
abandonarem o local da aldeia depois de algum tempo. Mas essa ideia está totalmente
errada, pois o índio ao perceber que próximo de sua aldeia; os animais, as
plantas e os peixes estavam se esgotando, abandonavam o local e ocupavam outro
lugar. Esse local sem a ação do homem volta a se recuperar, podendo ser ocupado
depois de algum tempo. O civilizado age dessa forma? Não. Ele usa os recursos
até se esgotar e depois vai destruir em outro lugar. Onde está a Mata Atlântica
e parte da Floresta Amazônica? O que ocorre quando o homem faz uma estrada ou
uma hidrelétrica? Como estão os rios e praias das grandes cidades?
Mas voltando ao tema central, os lusitanos sempre escreviam ao seu Rei
para justificar os massacres e a escravidão cometidos contra os índios.
Inúmeras cartas de funcionários, governadores ou vassalos davam como desculpa para
esses crimes a necessidade de mão de obra, a rebeldia dos bárbaros, a ocupação
da terra e a própria defesa.
Mas para não cometermos injustiças, temos que lembrar que a Europa havia
saído há
pouco tempo da
Idade Média e muito dos costumes dessa época ainda persistia. Nesse tempo o
Senhor não fazia trabalhos braçais, o povo conquistado tinha que ser
convertidos ao Catolicismo e quem não aceitasse era punido com rigor. Quando os
portugueses descobriam um novo lugar, baseado nos ideais das Cruzadas e da religião,
tinham o dever santificado de implantar a religião cristã de Roma no povo
local.
Não sentiam culpa por escravizar ou matar os índios por se tratarem de
gentios.
Já os Bandeirantes que até hoje são exaltados em São Paulo e no Brasil
com nome de ruas, avenidas, estradas e outros locais eram caçadores de ouro e
pedras preciosas e principalmente de índios para escravizarem ou matarem no
caso de rebeldia contra a escravidão ou a tomada de suas terras.
Quando os interesse da Coroa portuguesa eram contrariadas pelos índios, a
ordem era o extermínio.
Segundo Benedito Prezia e Eduardo Hoonaert (2000, p. 142) Marques de
Pombal (1699 – 1782) como Ministro de Portugal (1750-1778) acabou com as
missões jesuíticas que dava uma certa proteção aos índios apesar de destruir
sua cultura.
Essa atitude de acabar com os jesuítas, foi devido a interferência dos
religiosos nos lucros da Metrópole. Essa interferência de Pombal, junto com
outras medidas tomadas, foi uma pá de cal sobre a cultura indígena:
- As Missões passaram para o controle de funcionários governamentais.
- Os índios foram proibidos de colocar nome em tupi-guarani em seus
filhos.
- As línguas nativas e a geral (nheengatu) foram proibidas.
- Os caciques viraram capitão e Juizes, e as lideranças passaram a ser
vereadores municipais.
- Todo índio passa a ser cidadão português.
A visão de Pombal é que com essas medidas o fim do atraso do Brasil teria
fim.
Mas nem sempre os índios aceitaram a sua destruição sem luta. Entre 1753
e 1756 ocorreu a Guerra Guaranítica, onde espanhóis e portugueses encontraram
certa dificuldade para poder vencê-la.
Quando os Bandeirantes encontraram ouro, a população da Colônia aumentou
sensivelmente e houve necessidade de aumentar a produção de alimentos e
transporte (cavalos) e com isso a ocupação dos pampas e de outras regiões para
criação de gado e cavalos mais uma vez os índios tiveram suas terra invadidas e
entraram em confronto com os brancos civilizados. Foi devido a isso que os
Guaicurus se tornaram exímios cavaleiros.
Em nome de Deus
Juntos com os primeiros portugueses que aqui aportaram vieram os
religiosos com a missão de cristianizar os gentios, “salvar almas” para Deus.
Mas juntos com eles vieram muito preconceito, ignorância e falta de sensibilidade.
Ignoraram completamente a cultura e a religião indígena. Não aceitavam em
hipótese alguma que os índios pudessem ter uma cultura e muita menos uma
religião.
Jung afirma que “a essência da religião está na alma. Existe uma relação
profunda e intrínseca entre o mito e a psique, ou a alma. Disse:“El alma
contiene todas las imagines de que han surgido los mitos”. Jung evidentemente
sabia que a razão humana não consegue entender, portanto os deuses e demônios
antigos eram em sua maioria – senão que a alma primitiva personificava,
atribuindo-lhes propriedades e qualidades.
Um exemplo disso era que algumas tribos acreditavam que a Lua e o Sol
eram Deuses, mas não encaravam como deuses merecedores de sacrifício ou
adoração. È bom lembrar que Tupã nunca foi criação ou fez parte dos mitos
indígenas, mas sim invenção dos Jesuítas para identificar o Criador junto às
crianças das aldeias.
Para se ter uma ideia de como o índio era visto pelo civilizado temos
alguns fragmentos da época:
“Na atual fronteira entre Brasil,
Argentina e Paraguai, ocupada pelas Missões, no século XVII, as doenças do
branco transmitidas ao índio, eram usadas para convencer os indígenas do poder
de Deus católico.” Colocaram nos índios, noções de pecado, culpa e castigo. E a
ação nefasta das doenças trazidas pelo branco, foi usada para pressionar os
índios a se cristianizarem.(BAPTISTA, 2009, p.68-69 ).
...Mas os salesianos acabariam por destruir este ultimo alento da vida
tribal, alegavam que a maloca, desprovida de janela e permanentemente cheia de
fumaça, era matadouro de índios, que a promiscuidade de tanta gente de sexo e
idade diversos contrariava a moral cristã.” (Luciana Christante, em linha)
Em seu ímpeto apostólico, os salesianos se revelaram intolerantes à
cultura indígena. Os idiomas nativos eram expressamente proibidos nos
internatos e qualquer flagrante era punido severamente. A separação de meninos
e meninas era total. Com a introdução dos rituais católicos, penetraram também
as noções de pecado e indecência. As malocas foram gradativamente destruídas
sob o pretexto de promiscuidade e falta de higiene. Os pajés foram
ridicularizados e difamados. Enfeites e instrumentos cerimoniais – como os que
estão expostos no Museu do Índio em Manaus – foram paulatinamente substituídos por
crucifixos e imagens de santos”.(Luciana
Christante, em linha)
Em “Cartas do Brasil” de Pe Manuel da Nóbrega (1549, p.99 ) ao relatar sobre os pajés, o mesmo demonstra
um pouco de ciúmes, ignorância e intolerância para a religião dos gentios:
“Vem uns feiticeiros de mui longe terras, de sua vinda lhes mandam limpar
os caminhos e vão recebê-los com danças e festas, segundo os seus costumes, e
antes que cheguem ao lugar, andam as mulheres de duas em duas pelas casas,
dizendo publicamente as falhas que fizeram a seus maridos, umas com as outras,
e pedindo perdão deles...”
Tanto como os evangélicos protestantes e católicos fizeram um grande mal
aos índios ao interferir em sua religião e costumes.
O pajé, antes da interferência dos invasores, era muito respeitado, pois
ele dominava o conhecimento pela curas de doenças com as ervas e raízes
medicinais e por ter bastante idade que no entender do índio, significa
experiência. Além disso, a tribo acreditava nos poderes mágicos do pajé. Uma
profecia era entendida pela tribo como uma verdade e muitos temiam o Pajé, como
alguém que poderia ter controle do futuro, da vida e da morte.
|Mas o pajé não tinha poder contra a maldade dos brancos e por isso os
índios foram dizimados por doenças estranhas, armas de fogo, mercúrio, cachaça
e até drogas ( o crack hoje já chegou as comunidades indígenas).
Também a aproximação dos religiosos dos índios ao mesmo tempo em que o
protegeu, facilitou sua captura pelos bandeirantes e fazendeiros. Os
aldeamentos promovidos pelos jesuítas também facilitaram as epidemias de
varíolas, sífilis e outras doenças vinda da Europa.
Em nome do vil metal
Tanto na época da extração do pau-brasil (ibira - pitanga) como na
produção de cana de açúcar, os índios sofreram nas mãos dos portugueses, mas o
auge desse massacre ocorreu no século XVIII e XIX.
A Carta Régia de 1808 e dos anos seguintes foram ordens de D.João VI para
destruir os Botocudos e outras nações indígenas. Quando não ocorria a ordem de
destruí-los, a orientação era para integrá-lo na sociedade e assim acelerar a
sua extinção como nação.
As construções de ferrovias, a ocupação do interior e a imigração também
contribuíram para a expulsão, aculturação e destruição dos índios. No século
XX, no inicio, o índio continuou a ser molestado pelos brancos. A desculpa que
davam era o progresso e a ocupação do território brasileiro, mas na realidade
foi sempre a ganância e a cobiça que moviam essa matança.
De acordo com Darcy Ribeiro (1968, p.26) no século XX os índios passaram
pelo mesmo que seus antepassados do litoral na mão do “civilizado”. Por toda a
Amazônia onde pudesse chegar uma embarcação, as aldeias eram assaltadas,
incendiadas e sua população aliciada.
Esses exterminadores eram compostos por aventureiros, seringueiros,
balateiros, caucheiros, etc. Nessa época a extração de látex era feito após a
derrubada da seringueira ou do
caucho e com isso o seringueiro avançava
cada vez mais no interior da selva interferindo nas tribos ainda não contatada
pelo homem branco. Os seringueiros seqüestravam as índias e obrigava sua
família a trabalhar de graça para eles.
Nessa época foram formados os grandes latifúndios do Brasil. Segundo
Rondon:
“Sertões onde nunca pisou homem
civilizado já figuravam nos registros públicos como pertencentes aos cidadãos A
ou B, mais tarde ou mais cedo, conforme lhes sopra o vento do interesses
pessoais, esses proprietários – cara deum soboles – expelirão dali os índios
que, por uma inversão monstruosa dos fatos, da razão e da moral, serão então
considerados e tratados como se fossem eles os intrusos, salteadores e ladrões.
(Conferências, 1916:45)
Rondon constataria que o convívio indisciplinado com civilizados não
representa um progresso para os índios, mas ao contrario, sua brutalização sob
a mais vil das servidões.
A imigração no sul do Brasil, a partir de 1824, ocasionou a ocupação das
terras Kaingang e ocasionando conflitos entre eles. No inicio os índios levaram
a melhor, mas com a
intervenção
federal foram massacrados.
A partir de
1847, quando novas estradas são abertas para facilitar o desenvolvimento das
colônias e dos aldeamentos recém instalados, os ataques diminuíram, porém não
cessaram. Grupos de índios eram freqüentemente vistos nos arredores das propriedades
preparando suas "correrias", alarmando os colonos e motivando a ação
dos bugreiros.
Cultura Sufocada
Eles eram altivos, guerreiros, religiosos, livres, não destruíam a
natureza, precisavam de muito pouco para ser feliz e sobreviver.
O homem branco
chegou e num ato de arrogância, ignorou sua cultura e quis imputar a sua
cultura com todos os vícios que conhecemos: arrogância,inveja, ganância,
mentira, doenças, promiscuidade, autoritarismo, etc.
Darcy Ribeiro (1968, p. 36) afirma que há necessidade de outra ordem,
talvez mais fundamental ainda, porque delas depende a sobrevivência dos índios
como gente capaz de manter a si mesmo e de reagir contra o aviltamento. Nada é
mais necessário aos índios que uma barreira ao processo de identificação com os
pontos de vista dos civilizados que os levam a se olharem com os olhos dos
brancos, como pobres bichos ignorantes e desprezíveis, contra quais tudo é
permitido.
As lutas e os preconceitos contra os índios tem sido maior do que a sua
defesa por cidadãos brasileiros.
Herman Von Ihering – diretor do Museu Paulista em 1884 – defendia o
extermínio total dos índios brasileiros ( seria o primeiro holocausto feito por
alemão ). Isso colaborou decisivamente pela fundação do SPI (Serviço de
Proteção do Índio), atual Funai.
Von Hering seguia o evolucionismo haeckeliano da competição vital; diante
de uma população mais bem-dotada, os mais fracos devem ceder lugar, por um
imperativo das leis naturais, da evolução e do progresso.
Mesmo Rondon que tinha respeito pelos índios e passou para a história
como defensor deles, também tinha uma visão pratica na integração do silvícola – transformá-lo em
pessoas laboriosas e úteis a nação”. Rondon ao ter essa idealização quanto a
utilidade do índio desrespeitava a sua cultura e invadia o seu espaço.
Lei das terras em 1850 usava o argumento para se apoderar das terras
demarcadas era que os índios já não existiam mais, pois já não eram mais índios
na essência, isto é, já tinham se integrado ao mundo civilizado.
Atualmente o balanço ainda é desolador:
- 45 povos perderam a língua nativa e só falam português.
- Em 1999, na Comemoração dos 500
anos de Descobrimento, policiais militares da Bahia reprimiram violentamente
uma manifestação pacifica dos índios.
- Em março de 2009 o STF ( Supremo Tribunal Federal) decidiu quase por
unanimidade a aprovação da lei que garantiu aos índios a preservação da Reserva
Raposa do Sol contra a invasão dos não-indios. Isso só ocorreu devido a pressão
da opinião publica e da ameaça de haver derramamento de sangue. Houve muita
pressão contra a aprovação do STF por parte do governo de Rondônia,
latifundiários e organizações partidárias ruralistas como o Dem e o Psdb.
È interessante destacar que os índios não tinham uma religião e uma
cultura homogênea. Os índios do litoral e da Amazônia que tinham contatos com
os índios Andinos eram muito mais evoluídos que os índios do coração do Brasil.
Segundo, Claude Levis-strauss (colocar ano, p. 259) descrevia os Nambiquaras
como uma tribo com uma cultura bastante atrasada :
...a indigência em que vivem os Nambiquaras parece inacreditável. Nem um
sexo nem um outro usam qualquer roupa. E seu tipo físico, tanto quanta a
pobreza de sua cultura, diferencia-os das tribos da vizinhanças...
Já os Carijós construíam suas casas cobrindo-as com cascas de árvores e
já fabricavam redes e agasalhos com o algodão que cultivavam, forrando-as com
peles e ataviando-as com plumas e penas. Acostumaram-se a ajudar todos os
navios que lhe solicitassem auxílio, até que um dia, traídos na sua boa fé,
acabaram considerando os brancos inimigos.
Conclusão
Se a cultura indígena foi sufocada e não reconhecida pelo “civilizado”
foi justamente com o objetivo de dominá-los e não permitir que eles pudessem
ter qualquer direito.
Ao obrigá-los a seguir a religião Cristã e abrir mão de seus costumes,
tradição e mitos, o índio abria mão de sua natureza e identidade para se tornar
algo sem definição.
Não era mais
índio mas também não eram reconhecido como branco civilizado. Não podiam
andarem mais nus mas também não era aceito como parte da sociedade branca.
Os índios catequizados e “amansados” eram utilizados pelos brancos para
uma coisa abominável: ajudar a destruir os índios rebeldes e arredios.
Apesar disso tudo, a cultura indígena acabou fazendo parte da cultura
brasileira. Na culinária, no vocabulário, nos mitos, alimentos, na formação
física do brasileiro, no conhecimento das plantas e raízes. Temos uma divida
eterna com nossos irmãos índios.
Segundo o IBGE, no senso de 2010, setecentos e trinta e quatro mil
brasileiros se declararam indígenas. Calcula-se que em 1500 havia entre 5 e 10
milhões de índios vivendo aqui. Chacinas, doenças, fome, morte por depressão ao
perder sua identidade foram uma constante na vida deste povo que pagaram um
preço muito alto por serem donos de umas terras tão vasta, rica, produtiva e
bonita. Abençoada por Deus? Talvez pelo Deus do branco que era o mesmo Deus do
índio. Na Bíblia não está escrito que Deus é onisciente, onipresente e criou
todas as coisas? Desconfia-se que o Deus do branco não é o mesmo que está em
Gênesis. Pois esse Deus não aceitaria a matança generalizada, a distribuição de
roupas infectadas com varíolas e outras pestes intencionalmente para matá-los.
Nunca aprovaria que os garimpeiros enchessem as águas dos rios com mercúrio.
Que madeireiros, fazendeiros e latifundiários fizessem as maldades contra os
índios. È obvio que os índios não são santos. Contra eles pesam o canibalismo (
essas tribos foram extintas), o sacrifício de crianças com problemas de
deficiência, as lutas inter-tribais e o machismo.Mas se pesarmos em uma
balança, o civilizado tem muito mais pecado a pagar.
É só olharmos os
nossos presídios, nossos políticos, nossas “autoridades”, empresários,
banqueiros...Eles têm muito mais desvios de comportamento!
REFERÊNCIAS
RIBEIRO, Darcy. Os Índios e a
Civilização. Circulo do
Livro – São Paulo -1968.
PREZIA, Benedito. HOORNAERT, Eduardo. Brasil Indígena,
500 anos de resistência. FTD
– São Paulo – 2000
LÉVI-SRAUSS, Claude. Tristes trópicos. Companhia das Letras – 1996
GRUPIONI, Luís Donisete Benzi ( organizador).
Indios no Brasil.
Ministério da Educação e do Desporto – Brasília – 1994
REVISTA DA BIBLIOTECA NACIONAL. Rio de Janeiro. SABIN, n. 44, maio de 2009,
pg.12.
REVISTA DA BIBLIOTECA NACIONAL. Rio de Janeiro. SABIN, n. 48, setembro de
2009, pg 12.
HISTÓRIA VIVA. São Paulo. Duetto, n. 64, fevereiro de 2009.
HISTÓRIA VIVA. São Paulo. Duetto, n.67, maio de 2009.
Sites Consultados:
CHRISTANTE,
LUCIANA-As Missões Salesianas no rio negro”.>http://www2.unesp.br/revista/?p=1118<.Acesso
em 17