DIAULAS DOS SANTOS NAVARRO – R.A
93852
PÓS-GRADUAÇÃO EM
HISTÓRIA CULTURAL
MAZZAROPI – MEMÓRIA,
COTIDIANO E CULTURA
POPULAR
Orientador: Professora: ALEXANDRA
TEDESCO
“Universidade Gama Filho”
SÃO PAULO
2013
MAZZAROPI – MEMÓRIA, COTIDIANO E
CULTURA POPULAR
Resumo
Amacio Mazzaropi
e sua filmografia (32 filmes, sendo 28 produções independentes) – Paulistano de
Santa Cecília, deixou um acervo bastante interessante para ser pesquisado. São
30 anos de história, cotidiano e cultura popular do povo brasileiro, contidos
em suas películas. Além disso, nessa época o Brasil passava por uma imensa
transformação social. O contexto histórico de seus filmes inicia-se com a
industrialização da economia brasileira e termina já no inicio da
redemocratização do país. Seus filmes fizeram muito sucesso junto à classe
popular devido ao fato delas se verem retratadas nos seus filmes. Tudo isso foi
captado pela genialidade de Mazzaropi, o cotidiano, a memória e a valorização
da cultura popular.
Neste texto
procurarei mostrar que seus filmes focalizavam a representação da cultura
popular, nesse espaço de tempo em que foram produzidos. O objetivo desse artigo
acadêmico é resgatar uma época de transformação de nossa sociedade, onde os
valores culturais da nossa sociedade se firmaram em busca ao mesmo tempo de uma
modernidade, mas tentando manter os valores anteriores.
Palavras – chave: Cotidiano, cultura, popular, arte.
Introdução
O cinema sempre
foi visto pelos estudiosos e apaixonados pela História, como uma fonte não
confiável para pesquisa. Isso acontecia, pois consideravam que os produtores
estavam muito mais preocupados com a emoção do que com a “verdade” histórica. Segundo
Adorno e Horkheimer, citado por FRESSATO, (1980, p.119)
“os filmes e todas as produções da indústria cultural
são marcadas pelo lugar comum, pela banalização, pela vulgarização, muito além
da simplicidade. “São fáceis de serem consumidas por explorarem a emoção da
classe média e o senso comum médio das grandes massas”.
Mas já há algum tempo, os professores tem
utilizado os filmes com frequência nas salas de aula. Isso ocorre por dois
motivos: aumentar o interesse dos alunos pelos fatos históricos e pelo
reconhecimento que a ‘verdade’ histórica é relativa.
De acordo com
Nóvoa (2009,pg.156):
“Trazer filmes,
textos ficcionais e outros produtos artísticos para a cena da Pesquisa e do
Ensino de história, portanto, é fazê-los dialogarem com o trabalho dos
historiadores, ao invés de tratá-los como parceiros menores e ignorantes, a
serem corrigidos pela ciência. E descobrir que muitas são as vozes com direito
á fala reflexiva (no plano conceito ou no plano do sensível) sobre a história.
Uma delas é a voz dos filmes”.
Com exceção dos documentários, o cinema reproduz o processo surreal da
história. Mas para alguns historiadores, o filme sendo ficção ou realidade é um
documento histórico de muita importância, principalmente os documentários.
“As
relações existentes entre o cinema e a história foram formalmente explicitadas
na década de 70 no estudo de Marc Ferro, o historiador francês autor de “Cinema
e História”. Argumenta que desde o surgimento do cinema, este mantinha um
dialogo com a História. Walter Benjamin também alega que os filmes épicos
resgatam períodos de história da humanidade. (BRAGA, 2012)”
Desde a Primeira Guerra, as pessoas conheceram os
horrores da guerra através do cinema. O cinema funciona como um depoimento
tendo a imagem como testemunha do que está sendo relatado.
Se
ela traduz a verdade absoluta ou uma mentira, isso é relativo, como a própria
história já provou, nenhuma fonte é totalmente confiável. Dependemos sempre da
ideologia, religião, formação cultural e classe social individual de cada
pessoa envolvida na interpretação e produção da História. Embora os fatos sejam
únicos, a interpretação é diversa. “É que os exploradores do passado não são
homens completamente livres. O passado é seu tirano. Proíbe-lhes conhecer de si
qualquer coisa a não ser o que ele mesmo lhes fornece.” (BLOCH, Marc, 1997, pg.
75)
Mas tão importante quanto á trama do
filme para a História, são a memória, os costumes, o cotidiano e a arte popular
contido em determinadas películas. Os filmes de Amâncio Mazzaropi são um
exemplo muito claro de tudo isso. Uma filmografia de trinta anos (1952-1982),
atravessando por um Brasil efervescente; de golpe militar,
industrialização, mudanças de paradigmas, êxodo rural e transformações sociais e
econômicas. Sua produção cinematográfica, apesar de sua simplicidade (e talvez
por isso), tratam do cotidiano, memória e cultura popular das áreas rurais e
suburbanas. Seus filmes têm o cheiro do campo, das fazendas, dos trens, dos
cortiços, do trabalhador rural e do operário suburbano, das musicas de sucesso
da época, do sertanejo e da arte popular. Além disso, a memória contida em seus
filmes resgatam a moda desse tempo, os principais edifícios de São Paulo e
pontos de interesse como Santos, estação da Luz, Anhangabaú, Baia da Guanabara
e outros locais de épocas passadas. A memória pode ser considerada a
matéria prima do historiador. É uma construção psíquico-intelectual que ocasiona
uma representação seletiva do passado, que nunca é somente aquela do indivíduo,
mas de um indivíduo inserido num contexto familiar, nacional e social.
Na arte popular, Mazzaropi
aborda a arte circense, o futebol, a música popular, as festas tradicionais e o
folclore. O cotidiano do vendedor ambulante, do motorista de taxi, do servente
de escola, do roceiro sem esperança, do torcedor de futebol, do tocador de realejo,
dos primeiros laçadores de cães de rua, do herói por acaso, explorado pelo
político e outros tanto personagens do povo, representado pelo comediante.
Seus filmes
vistos pelo ângulo da História cultural é um acervo que não pode ser
desprezado. São trinta e dois filmes que abrange vários aspectos dos costumes,
cultura, memória e arte popular. Peter Burke questiona a classificação e
separação da cultura popular da erudita. Alega que até recentemente a cultura
era uma só, as elites só deixaram de participar da cultura popular nos meados
do século XVII (2005, pg.40-42) Mas a separação é cada vez mais inevitável,
pois o acesso da população mais pobre a arte erudita e clássica fica cada vez
mais restrito, devido ao poder aquisitivo e principalmente a própria raiz
cultural de cada um.
Mazzaropi
Para que possamos compreender contextualmente a
produção cinematográfica produzida por Mazzaropi e sua ligação com a arte
popular é preciso conhecer um pouco de sua vida. Ele nunca se casou, mas deixou
vários filhos adotivos. Nasceu em Santa Cecília, bairro tradicional da capital
paulista. Pertencente á classe média, mas inquieto e criativo e com dom
artístico, não gostava de estudar. Terminou o ginásio (ensino fundamental) e
abandonou os estudos. Seu nome, Amacio Mazzaropi, foi herdado do avô, imigrante
italiano, que vivia no campo, e que o fez criar gosto pelo meio rural, e que
também o levou a criar o personagem Mazzaropi. Conforme depoimento de um de
seus filhos adotivos, seu pai resolveu ser artista aos 16 anos, vendo os
meninos jogar futebol na cidade de Sorocaba. E por que artista e não jogador de
futebol? Jogava tão mal que os outros meninos não o deixavam participar.
Pressionado
pela família para estudar, foge para Coritiba-Pr, onde morava seu tio Domingos
Mazzaropi. Depois de um ano morando com seu tio falsifica sua identidade e vai
embora com um circo, onde trabalha por seis anos. Depois disso é encaminhado ao
Teatro Colombo (teatro dos italianos). Neste mesmo ano conhece uma dupla de
comediantes caipiras, os Irmãos Sebastião e Genésio Arruda. Isso foi
fundamental para a criação do seu mais famoso personagem: O Jeca, segundo
Fressato, (2011, p.24-25) foi idealizado por Monteiro Lobato, só que como uma
critica ao roceiro de São Paulo. Fez grande sucesso na Radio Nacional e Tupi do
famoso Assis Chateaubriand. Foi para a TV Tupi em 1950 fazer o programa “Rancho
Alegre”. Criou o “Pavilhão Mazzaropi”, que era uma associação de vários teatros
que viajavam por cidades onde tinha estação de trem, uma vez que o pavilhão era
conduzido em cima de um trem.
Este pavilhão durou oito
anos, até a morte de seu pai. No cinema produziu vinte e quatro filmes e
participou de oito como empregado contratado.
Ele começou a produzir seus filmes por
ganhar muito pouco como empregado. Seu primeiro estúdio foi em Taubaté-SP,
Fazenda Santa
e
depois o Estúdio Novo onde transformou em Hotel, O Pam Filmes Hotel, hoje
Hotel-fazenda. Sua maior paixão sempre foi o circo. De seus filmes, seis deles
são recordistas de público e o filme Jeca Macumbeiro é o maior recordista de
público e renda do cinema nacional: 16.800.000 pessoas em quatro semanas de
exibição. Já a película “Casinha Pequenina” de 1963 a 1983 foi visto por 93.867.000 pessoas, o
equivalente a toda a população do país.
“Apesar do sucesso entre
a população, Mazzaropi em entrevista (1970) não escondia seu ressentimento pela
falta de reconhecimento dos críticos, que não aceitavam seus filmes, mas
enalteciam um cinema “enrolado, complicado e cheio de símbolos”, referindo-se
ao Cinema Novo” (arte popular x arte erudita) (Fressato, 2011, p.64)
Diante de tudo isso, a crítica atual conclui que
dentro das características de Mazzaropi, não existe até hoje, artista desse
nível no Brasil. Mas o mais importante que suas obras estejam tão ligadas ao
cotidiano e a arte popular brasileira. No cinema, no teatro, na televisão e na
música, ele sempre valorizou a cultura das ruas e do povo. Talvez
inconscientemente, ele já praticava e valorizava a História Cultural.
Os filmes
O seu primeiro filme, “Sai da Frente” – 1952 - Mostra o
cotidiano de um trabalhador, pai de família, que vivia com muita dificuldade
financeira, conduzindo um caminhão pequeno e velho para fazer carretos e
pequenas mudanças. Contratado para levar uma pequena mudança para Santos acaba
se envolvendo em várias confusões, reflexo de uma burocracia governamental e
social dessa época. Esta produção realizada pela Vera Cruz, detalha a vida
cotidiana das pessoas mais humildes, que não tinha nenhum tipo de assistência
médica ou social, como médico, moradia ou bolsa-família. Em 1952, o Brasil
ainda era um país de poucos, mesmo aqueles que conseguiam trabalho nas indústrias
tinha baixa remuneração.
Grande parte da população urbana
residia em cortiços e quando ficavam doentes, recorriam a remédios caseiros ou
a algum médico caridoso que dedicava parte do seu tempo atendendo pessoas
pobres.
Nas
repartições públicas sempre tinha a foto de Getulio Vargas, atual Presidente da
República em 1952 e era costume na época “dar um viva a Getulio” entre os
getulistas. Os semáforos da época tinham um alarme sonoro que avisava a mudança
de cor para os pedestres e motoristas.
As ruas de São Paulo eram de paralelepípedos ou de terra batida. As
repartições públicas atendiam a população com pouco caso ou abuso de
autoridade. O filme aborda um dos golpes mais antigos: O bilhete falso da
loteria que foi premiado. Baseado nesse filme e em outros da época, percebe-se
que a “malandragem” trocava apenas alguns sopapos quando ocorria alguma
desavença, muito diferente do que ocorre nos dias de hoje. Como memória, temos
o Monumento a Independência, no Bairro do Gonzaga em Santos, Viaduto do Chá e
Praça Ramos de Azevedo, a Via Anchieta e o Teatro Municipal. O tema sobre a
arte popular é o circo, onde Mazzaropi iniciou sua carreira artística.
Já no filme “Candinho” – 1953 - Registra
o cotidiano do enteado rejeitado por seu pai adotivo, que vai embora do meio
rural para a cidade grande tentar a sorte. O tema central é o choque cultural e
social do “caipira” que ao chegar a uma cidade grande, encontra uma realidade
que não é sua, como a malicia, a malandragem, a necessidade do dinheiro para
poder sobreviver em uma terra de estranhos. Mas por outro lado, o filme mostra
que o cotidiano pode ser modificado conforme Certeau (1994, pg.46) pressionado
pela necessidade. O “caipira” com ajuda de um morador de rua aprende
rapidamente a trabalhar como ambulante e “falso mendigo” È a astucia de
sobrevivência que nos fala Michel de Certeau. Mas nessa época era muito difícil para as
mulheres. As que saiam de casa para vir para a cidade, conseguiam emprego
apenas em boates, cabarés ou se prostituindo, isto é, se fossem bonitas. As
memórias desse filme são o Jardim da Luz com os fotógrafos “lambe-lambe”, a
dança caipira da Catira, a escola de Balé e alguns locais de São Paulo.
No filme “Zé do Periquito” – 1960
- é o que retrata muito bem o cotidiano do inicio dos anos 60, onde ele é
servente em um colégio de classe média e os alunos vivem a perturbá-lo. Cansado
da chacota de alguns alunos e por gostar de uma aluna secretamente, pede demissão
e vai para uma cidade do litoral trabalhar de tocador de realejo.
Esse filme mostra várias situações do
dia-a-dia das pessoas. Era
comum em cidades pequenas, o povo ser transportado na carroceria de caminhões.
Enterros, agremiações de várzea e torcedores, comícios políticos, festejo em
outra cidade vizinha, tudo era feito por caminhões.
O filme mostra também que em pequenas cidades, havia muito interesse em
saber da vida alheia. Mazzaropi ao “tirar a sorte” com o periquito e seu
realejo, conhece uma moradora local que sabe da vida e dos segredos dos
moradores da cidade. Essa mulher passa os segredos para ele, que começa a
ganhar muito dinheiro com essas revelações. Mas por outro lado causa muita
encrenca entre as autoridades, marido e mulher, padre e fiéis, comerciante e
clientes por revelar os erros de cada um.
Nessa produção, temos, ainda muito
jovem, a participação de Agnaldo Rayol, Hebe Camargo e alguns cantores da
saudosa Jovem Guarda (Gianne e Bob di Carlo).
O filme mostra também que a escola dessa época era muito mais rígida
quanto a disciplina, onde alunos eram expulsos por mau comportamento.
No filme “Chico Fumaça” – 1958 - Têm o interior paulista e a capital como
cenário. Um “caipira” salva um trem de descarrilar e acaba virando herói, já
que nesta composição viajava um importante e rico candidato a governador.
Como fatos do cotidiano dessa época é enfocado a troca de dividas por
animais, as tiradas políticas provando que o povo não era tão passivo diante da
política como se imagina.
As casas do sertanejo pobre eram de taipa e barro (pau a pique). As
maquinas fotográficas tinham o flash descartável, isto é, era uma espécie de
lâmpada que se queimava após o acionamento do flash. Muitas cidades onde não
havia energia elétrica eram servidas pelas famosas “Maria-fumaça”, locomotiva
tracionada a vapor.
Mais uma vez é explorado o choque cultural do sertanejo que chega a uma
cidade grande como o Rio de Janeiro. A simplicidade e ingenuidade do interior contrastando
com a malícia, maldade e frieza da cidade grande.
A importância do radio, principalmente nas pequenas cidades, onde as
rádios informavam, divertiam e ainda tinha um papel social nos serviços de
utilidade publica, ao anunciar funerais, desaparecimento, vendas diversas, etc.
A rádio nos anos 60 era tão importante como a Internet nos dias atuais.
Como memória é exibida as noites cariocas e cantores como
Cauby Peixoto, Mara Abrantes, Zezé Gonzaga.
“A Carrocinha” - 1955 aborda o problema dos cachorros
abandonados na rua, que até nos dias de hoje é um problema enfrentado nas
maiorias das cidades brasileiras. Este problema, como se sabe, já começou com
os índios que sempre gostaram de criar animais domésticos em suas aldeias. O
prefeito da cidade que odeia cachorros contrata Mazzaroppi para extermina-los.
Neste
filme também tem como memória o tradicional carro de boi. Mostra um costume que
ainda era comum naquela época que antes de se deitar, lavava apenas o pé. Um
dos papéis principais é interpretado por Adoniram Barbosa, cantor, compositor e
humorista que fez muito sucesso até 1982, quando faleceu. No filme também
aparece o caminhão como transporte de pessoas. Nesse tempo, havia um ritual
para pedir uma moça em namoro: falava-se escondido com a pretendente, procurava
o pai dela e pedia licença para namorar. Quando o pai concedia, já avisava que
tinha que ser um namoro curto, para evitar que a moça ficasse “falada”, só
assim podia namorar e o local normalmente era na sala de estar vigiado por um
irmão da donzela.
“Casinha
Pequenina” – 1963 - É um recorte da época da escravidão, mais precisamente
a história ocorre em uma fazenda de propriedade de um “coronel” que tortura,
castiga e maltrata seus escravos.
O coronelismo, ainda vivido em
algumas pequenas cidades do nordeste e centro-oeste é bem demonstrado nessa
produção cinematográfica. Provavelmente as filmagens foram feitos em uma
fazenda que no passado era cenário da vida escrava. No ponto mais alto do
terreno, fica a Casa-grande e mais abaixo fica a senzala e o pelourinho. A casa-grande
ficava sempre no alto de forma estratégica, pois assim o senhor podia observar
a movimentação de seus empregados e escravos.
Memórias contidas no filme: lampião a querosene, carro de boi, cantoria
dos escravos, o cotidiano da fazenda, os castigos físicos contra os escravos, o
pelourinho.
Um dos pontos centrais do filme é um tema
explorado até hoje: o amor entre o filho do fazendeiro e a filha do colono,
isto é, o amor quase impossível entre classes sociais opostas.
“Jeca Tatu” – 1959 - È o filme mais
polemico de Mazzaropi. Tentando rebater as duras criticas de Monteiro Lobato ao
pequeno lavrador, seu personagem principal que devido ás circunstancias não
investe em suas poucas terras e acaba perdendo tudo.Mas a amizade e a
solidariedade do povo interiorano ajudam ele recuperar tudo novamente.
Memórias: o linguajar “caipira” bem presente neste filme. Fogão a lenha,
o rio e as lavadeiras de roupa, as brigas entre vizinhos por causa das cercas
de arame farpado dividindo as propriedades, participação do cantor Agnaldo
Rayol. Apoio da comunidade a um determinado político para receber terras em
troca. Nessa época era comum entre as camadas mais pobres, os filhos pedirem a
benção dos pais na hora de irem se deitar. Neste mesmo filme mostra outra
realidade na cidade. Os jovens desfilam suas lambretas com suas namoradas ou
amigas com penteados a base de laquê. Os motoristas são chamados de “chauffer”,
mas apesar dessa elegância da elite, é comum a chacota com o “caipira”.
“O
Lamparina” – 1964 - O titulo é uma paródia ao filme de Lima Barreto “O
Lampião” que retrata a vida do mais famoso cangaceiro, que fez a sua fama na
época do coronelismo oligarca, filmado na fazenda Santa Fé, em Taubaté. Talvez
seja o filme mais contraditório de Mazzaropi. Primeiro porque o cangaço só
existiu no nordeste e segundo, que o cangaço ocorreu no fim do século XIX e
inicio do século XX. Além disso a neblina da Serra da Mantiqueira não deixa
duvidas do local de filmagem.
Memória: O rio Paraíba, ainda limpo e próprio para pesca. As pessoas mais
pobres andavam descalças, sapato era usado para ir a missa. Os filhos
respeitavam seus pais, mesmo depois de adultos. Os filhos precisavam do
consentimento verbal dos pais para casar, mesmo sendo maiores. Uma época muito
difícil onde o chuveiro era artigo de luxo, e a maioria das pessoas tomavam
meio banho de bacia, isto é, lavavam os pés e as partes intimas.
“Chofer
de praça”- 1958 - O titulo em si já traz lembrança de um tempo nostálgico,
pois hoje todos são motoristas, segundo nossa língua portuguesa. O filme relata
as agruras do pai de família que tem que batalhar para ganhar seu sustento e de
sua família dirigindo um taxi. Até nos dias atuais os profissionais do volante
encontram todo tipo de passageiro em seu cotidiano.
Pessoas que são simpáticas e dão boas
gorjetas e pessoas exigentes, malcriadas e mal humoradas. Relata também a
vergonha que muitos filhos têm dos pais devido à classe social, a falta de
estudo e cultura.
Também
abrange a oposição entre a cultura popular e a cultura erudita: o Teatro
Municipal e os bailes familiares e comunitários.
Memória: Teatro Municipal, Lana Bentecourt, Agnaldo Rayol, Os taxis da
época tinham seu taxímetro localizado do lado externo do veiculo e era
mecânico. O Parque do Ibirapuera, as Modistas que costuravam em casa para as
senhoras. As mulheres viúvas eram mal vistas pela comunidade, pois
representavam um perigo para as mulheres casadas. Em uma época onde não havia rede
social, televisão era artigo de luxo, e as pessoas não tinham quase opção de
lazer, a grande onda era falar da vida alheia. E essas fofocas ás vezes
terminavam em caso de policia, com muitos puxões de cabelo e sopapos.
“As aventuras de Pedro Malasartes” - 1960, filme baseado na famosa
história de Pedro Malasartes, personagem folclórico que usa a ganância humana
para levar vantagem.
Apesar do trabalhar com uma lenda, muitos problemas que são abordados no
filme são bem atuais. A criança abandonada, a justiça muito dura com os
despossuídos e branda com os poderosos, o descaso da sociedade com os pobres.
Mas por outro lado existem pessoas que ainda se preocupa com o seu próximo e
mesmo de uma forma torta ajuda seu semelhante. Memórias e cotidiano: Fazenda,
pescaria no rio Paraíba, carroça como meio de transporte, Bossa Nova, Lana
Bitencourt, Os Farroupilhas, Claudio de Barros,
“Um caipira em Bariloche”- 1973 enfoca o fazendeiro que por pressão
da família é obrigado a vender suas terras para um vigarista. Memória e
cotidiano: A cantora Elza Soares, bastante jovem, cantando. Vista panorâmica do
Rio de Janeiro. Primeiro filme que retrata o Carnaval carioca. Paulo Sérgio,
cantor da Jovem Guarda, cantando em baile carnavalesco. Primeiro filme com
filmagens fora do Brasil, na Argentina. Vista aérea da cidade São Paulo.
Tiroteios no interior, como nos bang-bang a italiana.
Neste filme são colocadas algumas frases muito usuais naquela época: - Vá
plantar batatas! – Não há tatu que aguente. – Véio fogueteiro!
“Portugal,
minha saudade”- 1973 - Cotidianos e memória: a briga secular entre
marreteiros e fiscais da prefeitura. Mais uma vez Mazzaropi, corintiano
fanático, coloca vários símbolos do seu time em vários locais do cenário. A
utilização de papel de parede na casa toda como decoração. Vários objetos
eletrônicos são percebidos em vários locais das casas. O drama de colocar os
pais no asilo naquela época. Angela Maria, cantora popular cantando feliz
ano-novo e a cidade de São Paulo iluminada para a festa de final de ano. Vários
pontos históricos e religiosos são exibidos no filme, mas a cidade Fátima, em
Portugal, é mostrado com mais detalhes.
“O noivo da girafa”- 1952. Comédia que tem como cenários
principais o zoológico carioca e uma pensão. As pensões eram muito utilizadas
nos anos 50 e 60. Uma época que também o leite era engarrafado em litros de
vidro que hoje é colocado em embalagens descartáveis que colabora com o excesso
de lixo produzido pela população. Nessa época também era comum o médico ir até
a casa do paciente, hoje eles não querem ir nem aos ambulatórios. As brigas de
bares também eram muito comuns, mas sem uso de armas e mortes.
“A banda das velhas virgens”- 1979, filmado em Ubatuba e Taubaté, revela
um tempo em que trabalhar na coleta de materiais no lixo para reciclagem é mais
lucrativo do que trabalhar na roça como empregado.
Apesar de ter sido produzido em 1979, além do problema do meio ambiente,
a discriminação do deficiente físico é colocada em pauta. Além disso, o abuso
de autoridade era comum em 1979, devido a ditadura militar. Em uma cena, o
Delegado olha a mão de Mazzaropi para saber se ele era trabalhador, se tinha
calos na mão. Mazzaropi faz o mesmo com o Delegado e vai preso por desacato a
autoridade.
“Betão Ronca Ferro”- 1970, talvez o filme predileto de
Mazzaropi, onde o cotidiano circense é o tema central da obra cinematográfica.
Cotidiano e memória: Circo Quim Quim , os costumes conservador das pessoas
ligadas ao circo. O uso da mini-saia, referencia a calça de tergal (senta e
levanta...) o aeroporto de Congonhas, vista do Rio de Janeiro. A numeração das
placas automotivas com vários números ( 1- 80 – 70 – 94 por exemplo) .
“Jeca e seu filho preto”- 1978, filmado em São Luiz do Paraitinga,
tendo como tema central o amor entre um negro e uma branca, ainda visto com
certa reserva por parte da sociedade. A dependência do empregado da fazenda ao
seu patrão.
O fim da
escravidão, mas não o fim do preconceito e da discriminação. A influência da
fofoca no cotidiano das pessoas. A crença em assombração pelo homem do campo. A
dança cigana é retratada nesta película.
“Sai
de baixo”- 1956. Aborda as agruras de um camponês que ganha uma fortuna na
loteria e a partir daí não tem mais sossego, devido o assédio de amigos,
parentes e até inimigos. O jogo de loteria também é muito forte no cotidiano de
milhares de brasileiro, assim como o jogo do bicho.
Memórias, cotidiano e arte popular: Time de várzea, os orfanatos
(problema social crônico), Jogo de baralho denominado truco, Largo do Anhagabaú,
rodoviária antiga de São Paulo, cantigas de roda, o imaginário popular sobre o
céu.
“O corintiano”- 1966, nesse filme, Mazzaropi invade os bastidores do
cotidiano da maior paixão dos brasileiros: o futebol. Ele encarna um barbeiro
torcedor fanático pelo Corinthians. Tão fanático, que quando o cliente torce
por seu time, não paga o corte de cabelo ou barba.
Ganha um burro na rifa
que é outro costume verde-amarelo dos brasileiros: comprar e fazer rifas.
Não se pode concluir se o
filme quis exaltar ou mostrar que o torcedor fanático é antes de tudo um
impertinente.
Memória e cotidiano:
Eliza – torcedora símbolo do Corinthians (anos 50 e 60). Concha acústica do
Estádio Municipal do Pacaembu, substituído pelo “tobogã”. Nesta época o maior
meio de comunicação era o rádio. Este filme mostra pela primeira vez, uma arte
erudita que é o balet.O homem ainda não havia pisado na Lua e por isso no
imaginário popular, as manchas lunares eram de São Jorge e por isso acreditavam
que o santo guerreiro residia na Lua. Nessa época algumas pessoas achavam que
estudar não era tão importante, se tivesse talento para ser jogador de futebol.
Esse é o primeiro filme que Mazzaropi faz o papel de um suburbano.
“O jeca macumbeiro”- 1974, mostra a ingenuidade do camponês que
confia cegamente no seu compadre e amigo e pede que ele tome conta de toda sua
fortuna e depois é passado para trás.
Nessa época as pessoas
tinham mais confiança nos amigos e parentes, mas a degradação do ser humano
através dos tempos acabou com essa confiança. Nesse filme, o cotidiano visto é
as fofocas das comadres, condução das boiadas pelos vaqueiros, as lavadeiras
que lavavam a roupa nas margens do rio, as viaturas policiais que nessa época
eram da cor vermelha e preta. Também no filme vemos a “sessões” em que os “espíritos”
comunicavam com os vivos.
“Uma pistola para Djeca”- 1969, um filme que aproveitando o sucesso
do faroeste italiano conta um fato muito comum no passado, ás mulheres serem
seduzidas ou violentadas por homens com algum poder e ficar caladas por medo de
escândalo ou represálias. È um filme que aborda o coronelismo, onde fazendeiros
aterrorizavam as pessoas mais humildes com apoio das autoridades locais. Também
é questionado o preconceito da época contra as crianças que não era reconhecida
pelo pai. Nessa época era comum nos locais mais pobres a criança ir para a
escola de pé no chão. Muitos casamentos eram “arranjados” por motivos
financeiros, religioso ou devido a mulher estar grávida.
“Tristeza do Jeca”- 1961, gira em torno da disputa política
entre dois lideres locais de uma pequena
cidade do interior. É usado todo tipo de artimanha para arrebatar os votos dos
eleitores: compra de votos, sequestro, chantagem com os funcionários da fazenda
de um dos candidatos, promessa de casamento para a filha do líder camponês (Mazzaropi)
com um rapaz do Rio de Janeiro, festas com comício político. O cotidiano e
memória desse filme são mais uma vez a vida tranquila e pacata do interior, mas
que se agita com a eleição municipal. Os rodeios a moda antiga, a reza da ave-maria
que era sempre realizada ás dezoito horas, o cotidiano da lavoura com as
carroças, boiadeiros, o sapato de salto alto que é algo estranho para as moças
do interior. No filme aparece Agnaldo Rayol bem jovem interpretando uma canção.
Mais uma vez a sabedoria política do povo que tira proveito na hora de
votar porque sabe que depois de eleito, o político nada mais fará. E por fim a
solidariedade do povo na hora do aperto é mais uma vez explicitado.
“O gato da madame”- 1956, é o cotidiano de um suburbano que
desempregado faz vários pequenos trabalhos para sobreviver, e é ajudado por sua esposa, que lava roupa e
passa para as pessoas que tem mais posses.
A história gira em torno de um
gato que fugiu de uma mansão, cuja dona é muito rica. Ela coloca anúncios
pagando cem mil cruzeiros a quem devolver o bichano.
As memórias e cotidiano mostra o jogo do bafo que era muito praticado até
os anos setenta entre a meninada. Consistia em bater no verso das figurinhas
com a palma da mão e a quantidade que virasse ficaria para quem bateu. Talvez
seja o único filme do Ámacio que mostra uma feira livre. Um dos pontos
interessantes é as cenas no Museu do Ipiranga, onde ao personagens da História
da Independência feitos de cera, ganham vida. Também tem o famoso concurso de
miss, que era bastante comum nas empresas, clubes ou cidades. Mais uma vez
Mazzaropi satiriza as sessões espíritas e evidencia em seu filme que o crime
não compensa.
“O Fuzileiro do amor”- 1956 - outra profissão humilde é
interpretado por Amácio Mazzaropi, a de sapateiro, mas para conquistar o direito
de namorar com sua amada, entra para o quartel. Uma visão humorada do cotidiano
militar.
Esse filme também mostra o cotidiano do hospital psiquiátrico.
Memória: cantores – Ângela Maria, Os cangaceiros e Margot Muriel. Banda
Marcial dos Fuzileiros.
“O Puritano da Rua Augusta”- 1965 - Memória: Praça Patriarca, Avenida São
João, Rua Libero Badaró, Avenida Nove de Julho e seu túnel, Rua Augusta, Parque
do Ibirapuera, o carro Galaxy que foi um sucesso nos anos sessenta, a cantora
Elza Soares, ainda bem jovem, The Jordans do movimento da Jovem Guarda.
Esse filme enfoca um rico empresário que não aceita a modernidade dos
anos sessenta: o biquíni de duas peças e o maiô, o twist, a mulher
independente, as pessoas sem uma religião. Mas com todo o conservadorismo,
nessa época, era comum o desrespeito contra o negro.
“Nadando em dinheiro”- 1952 - Memória:
Estádio Municipal do Pacaembu, Avenida Paulista. Continuação do Filme “Sai da
frente”. Uma sátira a vida dos milionários que tem em seu circulo de amizades, pessoas
falsas e interesseiras. Mostra também a transformação das pessoas ante o poder
do dinheiro. Mas tudo não passa de um pesadelo.
“O Jeca e a égua milagrosa” – 1980 - Em
uma cidade perdida no mapa, dois coronéis pretendem ser eleitos prefeitos. Seu
Afonso é o lado bom da trama, um religioso correto, de intenções puras, de uma
religiosidade opaca e solene que nem se parece humano, de tão ideal. Seu
Libório é o outro lado, um charlatão, um mistificador, um vilão que quer ganhar
as eleições a todo custo, e usa seus capangas, a força das armas e a beleza da
própria filha para conseguir seu intento.
O bem e o mal disputam as
urnas e a cabeça dos eleitores.
“Meu Japão
brasileiro”- 1964, - O
domínio de um atravessador que é o único comprador da produção agropecuário de
uma comunidade distante por um preço reduzido, causando prejuízo aos
agricultores. Isso obriga os produtores criarem uma cooperativa que vai contra
os interesses do “atravessador”. Apesar da violência do fazendeiro, as
mercadorias são levadas para a cidade grande, onde são comercializadas. No
filme também é mostrado o preconceito contra os imigrantes japoneses,
considerados intrusos. É mostrada uma pequena parte da cultura nipônica.
“A Banda
das velhas virgens” – 1979, - Mazzaropi comanda uma banda compostas só de senhoras
solteironas... e virgens. Mas esse não é o principal tema do filme. O filme
gira em torno do amor entre um deficiente físico pela filha de um fazendeiro
abastado. Pressionado pelo fazendeiro e com necessidades financeiras para
tentar a cura do seu filho que está em cadeira de rodas, Mazzaropi vai para a
cidade trabalhar no reciclo de lixo, onde se mete em várias confusões. Esse
filme tem como ponto principal o combate ao preconceito contra a deficiência
física, a diferença social e a busca de uma vida melhor na cidade devido ao
trabalho semiescravo na roça.
A
contribuição de sua obra
“A primeira medida que se
impõe para examinar em quais condições utilizarmos o cinema como pesquisa
histórica, é precisamente a que se refere ás questões às quais ele pode
responder. Em outros termos, quais são os objetivos que os historiadores podem
se fixar em função das possibilidades que dissimula esse tipo de fonte? O que
testemunha o filme?”
“Que elo existe entre a
representação fílmica e a memória ou a mentalidades coletivas? O cinema pode
servir para desenvolver uma história critica? Muitas questões diferentes para
as quais as respostas atualmente são muito diversas.”(NÓVOA, 2009,pg 101)
Os filmes de Mazzaropi, além de conter
cotidiano, memória e cultura popular, também representa a realidade social de
uma época onde o Brasil passava por uma profunda transformação. Segundo Soleni,
os anos 50 no período de JK foram fundamentais para o processo de
industrialização e urbanização (Soleni, 2011, pg.182).
Apesar de parte de seus
filmes serem classificados como chanchadas, seus filmes retrata a vida dura do
camponês, que fugindo da dura realidade da lavoura, vai para a cidade em busca
de uma vida melhor. Na cidade grande, além de ser explorado por um salário
miserável, perde a dignidade ao residir em cortiços ( nessa época São Paulo não
tinha favelas), poucos conseguem trabalho, e sem dinheiro ou parentes na
cidade, sofrem bastante. As camponesas sem profissão, ou trabalham de domésticas
ou se prostituem para sobreviver. Não esqueçamos que a maioria das pessoas que
vinham do meio rural eram analfabetos e não eram profissionalizados e por isso
não podiam ser totalmente aproveitados pela industria.
Sempre com boa dose de
humor, Mazzaropi não perdoa os políticos da época, que em tempo de eleição se
misturava com o povo, beijava criancinhas, abraçava os operários e camponeses.
Foi bastante irônico com os tribunais que nesse tempo sempre pendiam a favor
dos que tinham mais poder aquisitivo. Em várias películas, unia o povo contra o
opressor, sempre o bem vencia o mal. Mostrou os verdadeiros valores morais,
religiosos e éticos para seu publico, como: a riqueza nem sempre traz a
verdadeira felicidade, que o preconceito racial é uma ignorância e que não leva
a lugar algum, a família, o trabalho, a honestidade, a religião. Além dos
valores pessoais, ele valoriza nossa cultura popular sempre apresentando em
seus filmes artistas nacionais, temas brasileiros, festividades, tradições,
valorizando assim, nosso patrimônio histórico.
Suas produções fotografam
os principais pontos arquitetônicos do Rio de Janeiro e São Paulo. Obras, como
a antiga rodoviária de São Paulo, ficaram imortalizado em seu filme “Sai de
baixo”, já que foi demolida recentemente.
Conforme Gadelha [s.d.] apesar de ser
desprezado pela critica, considerado amador pelos cinegrafistas contemporâneo,
e ultrapassado pelo publico moderno, Mazzaropi lotou os cinemas, cativou uma
massa imensa em uma época onde não existia DVD, internet, e poucos tinham poder
aquisitivo para possuir uma televisão. Suas obras tem muito que dizer para
aqueles que trabalham com história cultural, através de seus filmes, devido ao
cotidiano, a memória, a cultura popular contido em suas obras.
Conclusão
Ao ter como objetivo produzir filmes direcionados ao público
mais humilde, Mazzaropi que também era um representante dessa camada, apostou
colocar em seus filmes os costumes, cultura e memória popular.
Arrastou verdadeiras multidões ao
cinema para que esse público pudesse se divertir vendo seus sonhos, esperanças,
sofrimento, alegria, e seu cotidiano retratado na tela do cinema. Não podemos
esquecer que desde a chegada da televisão no Brasil até o inicio dos anos 70,
só a classe média possuía televisão. Era mais barato ir ao circo ou ao cinema
do que pagar o financiamento de um aparelho de tevê.
Com a
pesquisa minuciosa de seus filmes, espero ter atingido um dos objetivos que
seus filmes, sempre que possível, abordava com muita propriedade: a cultura
popular.
O outro objetivo desse artigo era
demonstrar que apesar da grande transformação que o Brasil passou durante os
anos 50,60,70 e 80, saindo de uma economia quase que totalmente rural para um
país industrial, a população não abriu mão de seus valores culturais. Ainda
hoje ouvimos musicas sertanejas, o circo ainda tem publico, as festas como a
junina permanecem, o futebol e os rodeios estão forte como nunca, as filas nas
casas lotéricas continua, a religiosidade ainda é forte, enfim, a cultura e os
costumes populares resistem a modernidade.
REFERÊNCIAS
CERTEAU, Michel De. A invenção
do cotidiano – Artes de fazer. Editora Vozes - 1990
NÓVOA, Jorge. FRESSATO,
Soleni Biscouto. FEIGELSON, Kristian. Cinematógrafo
– Um Olhar sobre a história. Editora Unesp – São Paulo – 2009
FRESSATO, Soleni Biscouto. Caipira
sim, trouxa não – EDUFBA – Salvador – 2011
BLOCH, Marc. Apologia da História – JORGE ZAHAR
EDITOR - 1997
BURKE, Peter. O que é história cultural – Jorge Zahar
Editor – Rio de Janeiro – 2005
FILMOGRAFIA
SAI da frente. Produção de Abílio Pereira de
Almeida. São Paulo: Companhia Vera Cruz, 1952. DVD 80 minutos. Preto e branco.
Português.
NADANDO em dinheiro. Produção de Abílio Pereira de
Almeida. São Paulo: Companhia Vera Cruz, 1952. DVD 90 minutos. Preto e branco.
Português.
CANDINHO.Produção de Abílio Pereira de
Almeida. São Paulo: Companhia Vera Cruz, 1953. DVD 95 minutos. Preto e branco.
Português.
A CARROCINHA. Produção de Agostinho Martins
Pereira. São Paulo: P.J.P.,1955.DVD. Preto e Branco. Português.
O GATO da madame. Produção de Agostinho Martins
Pereira. São Paulo: Cinematográfica Brasil Filme Ltda.1956.DVD 90 minutos.
Preto e Branco. Português.
FUZILEIRO do amor. Produção de Eurides Ramos. São
Paulo/ Rio de Janeiro: Cinêlandia Filmes. 1956.DVD 100 minutos. Preto e branco.
Português.
O NOIVO da girafa. Produção de Osvaldo Massaini. São
Paulo/Rio de Janeiro: Cinedistri/Cinelandia filmes. 1952. DVD 92 minutos. Preto
e Branco. Português.
CHICO Fumaça. Produção de Oswaldo Masaini. São
Paulo/Rio de Janeiro: Cinedistri/Cinelandia Filmes. 1958. DVD 96 minutos. Preto
e branco. Português.
CHOFER de praça. Produção de Amácio Mazzaropi. São
Paulo: PAM Filmes (Taubaté-SP)1958. DVD
97 minutos. Preto e branco. Português.
JECA Tatu. Produção de Amácio Mazzaropi. São
Paulo: PAM Filmes (Taubaté-SP)1959. DVD
95 minutos. Preto e branco. Português.
AS AVENTURAS de Pedro
Malasartes. Produção
de Amácio Mazzaropi. São Paulo: PAM Filmes
(Taubaté-SP)1960. DVD 95 minutos. Preto e branco. Português.
ZÉ do Periquito. Produção de Amácio Mazzaropi. São
Paulo: PAM Filmes (Taubaté-SP)1960. DVD
100 minutos. Preto e branco. Português.
TRISTEZA do Jeca. Produção de Amácio Mazzaropi. São
Paulo: PAM Filmes (Taubaté-SP)1961. DVD
95 minutos. Preto e branco. Português.
CASINHA Pequenina. Produção de Amácio Mazzaropi. São
Paulo: PAM Filmes (Taubaté-SP)1963. DVD
95 minutos. Preto e branco. Português.
O LAMPARINA. Produção de Amácio Mazzaropi. São
Paulo: PAM Filmes (Taubaté-SP)1964. DVD
104 minutos. Preto e branco. Português.
MEU Japão brasileiro. Produção de Amácio Mazzaropi. São
Paulo: PAM Filmes (Taubaté-SP)1964. DVD
102 minutos. Preto e branco. Português.
O PURITANO da rua Augusta. Produção de Amácio Mazzaropi. São Paulo:
PAM Filmes (Taubaté-SP)1965. DVD 102
minutos. Preto e branco. Português.
O CORINTIANO. Produção de Amácio Mazzaropi. São
Paulo: PAM Filmes (Taubaté-SP)1966. DVD
98 minutos. Preto e branco. Português.
UMA PISTOLA para Djeca. Produção de Amácio Mazzaropi. São
Paulo: PAM Filmes (Taubaté-SP)1969. DVD
90 minutos. Preto e branco. Português.
BETÃO Ronca Ferro. Produção de Amácio Mazzaropi. São
Paulo: PAM Filmes (Taubaté-SP)1970. DVD
100 minutos. Colorido. Português.
UM CAIPIRA em Bariloche. Produção de Amácio Mazzaropi. São
Paulo: PAM Filmes (Taubaté-SP)1973. DVD
100 minutos. Colorido. Português.
PORTUGAL...Minha saudade. Produção de Amácio Mazzaropi. São
Paulo: PAM Filmes (Taubaté-SP)1973. DVD
100 minutos. Colorido. Português.
O JECA Macumbeiro. Produção de Amácio Mazzaropi. São
Paulo: PAM Filmes (Taubaté-SP)1974. DVD
87 minutos. Colorido. Português.
SAI de baixo. Produção de Amácio Mazzaropi. São
Paulo: PAM Filmes (Taubaté-SP) 1956. DVD
100 minutos. Colorido. Português
JECA e seu filho Preto. Produção de Amácio Mazzaropi. São
Paulo: PAM Filmes (Taubaté-SP)1978. DVD
104 minutos. Colorido. Português.
A BANDA das velhas
virgens. Produção de
Amácio Mazzaropi. São Paulo: PAM Filmes
(Taubaté-SP)1979. DVD 100 minutos. Colorido. Português.
O JECA e a égua milagrosa. Produção de Amácio Mazzaropi. São
Paulo: PAM Filmes (Taubaté-SP)1980. DVD
102 minutos. Colorido. Português.
SITES CONSULTADOS:
FICHA técnica dos filmes.
Disponivel em : http://www.museumazzaropi.com.br/hist.htm/acesso em 15/06/2012.
BIOGRAFIA de Mazzaropi.
Disponivel em: http://www.overmundo.com.br/overblog/amacio-mazzaropi-a-historia/ acesso em 23/04/2012.
BRAGA, Ana Livia – O Cinema
como fonte de compreensão da realidade – Disponivel em: http://www.oolhodahistoria.ufba.br/artigos/cinemarealidade.pdf
- acesso em 05/06/2012
GADELHA, Marina – Memória
das Artes –Disponivel em : http://www.funarte.gov.br/brasilmemoriadasartes/acervo/atores-do-brasil/amado-pelo-publico-detestado-pela-critica-os-contrastes-de-mazzaropi-nas-materias-de-jornal/ - acesso em 10/06/2012
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